quase dois anos e nunca o tinha frequentado; enfim, apenas durante dois meses no ano passado, nada mais... O que acontece é que, desde que começou a ir, concretamente desde o segundo dia, está a submeter-me a uma chantagem emocional descarada. E isso está a deixar-me esgotada . Acorda alegre como sempre, toma o pequeno-almoço, vê os desenhos animados da manhã e então... aí vai ele... diz sem parar: Mamã, escola não, escola não... ; e pode estar nisto durante meia hora. E com um ar triste, claro. No caminho para o jardim de infância, vai bem até que o vê. Aí, sim, começa o teatro: Mamã, vamos passear; mamã linda; mamã, escola não; mamã, beijos; mamã, um ar de tristeza... Quando lhe pego, o seu rosto reflete uma dor como se o estivessem a matar; pobrezinho, como chora..., e eu, claro, com as lágrimas prestes a saltar-me dos olhos. Vou para casa destroçada. Sinto-me mal, revejo a situação, penso se agi bem, penso que sim, que necessito de tempo para procurar trabalho, que ele ficará bem (e isto todos os dias desde segunda-feira passada). A uma menos um quarto já lá estou, para que o pobrezinho não chore mais... e o que vejo? Está a brincar, alegre, com as outras crianças. E sem olheiras, ou seja, não chorou mais. a mesma cena, já sem lágrimas. Então a diretora conta-me, morta de riso, que não chorou durante toda a manhã, que assim que me fui embora parou de se lamentar, que quando muito pergunta: E isto se repete todos os dias. À tarde, em casa, é horrível. Só quer estar comigo, não consigo ir nem à casa de banho sem que o ouça chamar-me ou comece a choramingar. Se acorda durante a noite e o pai vai ver o que se passa, chama-me a mim. Se vou às compras, tenho de levá-lo... Ramón mostra as várias reações características de uma separação: agarrar-se como uma lapa à mãe e exigir atenção contínua, mostrar-se aparentemente tranquilo e cooperante quando está no jardim de infância, mostrar-se inquieto quando o deixa... Parece que é precisamente o fato de não chorar quando se encontra no jardim de infância que convence a mãe de que tudo não passa de teatro . Do que necessitaria a mãe para compreender que o filho sofre realmente? Que não pare de chorar durante todo o tempo que passa no jardim de infância? Ninguém chora tanto. Perante as maiores desgraças e calamidades, o ser humano chora durante uns momentos e depois segue em frente. As pessoas não choram sem parar nem nos funerais, nem nos hospitais, nem na prisão, nem num campo de concentração. Deixar de chorar, mesmo no caso daqueles que se fazem fortes e tentam suportar com valentia a situação, não significa que tenham deixado de sofrer. Vimos anteriormente como, entre os menores de três anos, são precisamente aqueles que têm melhor relação com a mãe os que demonstram maior sofrimento com a separação. A espetacular reação de Ramón mostra-nos, precisamente, que ama muito a mãe e que esta o tratara sempre muito bem. É uma pena que Susana não o saiba! O lado trágico do caso é que esta incompreensão pode aumentar o sofrimento. O ideal, não nos enganemos, seria que Ramón não fosse para o jardim de infância ainda durante alguns meses. Mas isso nem sempre é possível; Susana necessita de procurar trabalho e não pode deixar de levar o filho ao jardim de infância. Não, não é o fim do mundo. É uma separação relativamente curta que pode ser compensada. Ramón está a explicar à mãe como compensar a separação, como tratar da ferida: pede-lhe que passe com ele toda a tarde, que lhe acuda durante a noite quando a chama (suspeitamos mesmo que preferia dormir com ela), que o leve quando vai fazer compras, que lhe dê muitos abraços e mimos. Susana poderia dar-lhe tudo isso e sentir-se muito melhor ao fazê-lo, tratando também a dor de que ela própria sofre devido