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Problemas, número de condicionamento e modelagem

Paulo Bordoni
September 30, 2014

Problemas, número de condicionamento e modelagem

Por efetuar.

Paulo Bordoni

September 30, 2014
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Transcript

  1. Mestre, o que é um problema? Loirinha, esta é uma

    pergunta com resposta difícil. Vá perguntar ao Polya.
  2. Vai ajudar vocês! Vá à aba “Leituras adicionais” no site

    do Mestre e leia “How to solve it, G. Polya – Resumo”
  3. O Mestre nos ensinou que os ingredientes essenciais de um

    problema são os dados, a condição e a incógnita. Dados Incógnita Problema Condição
  4. Geralmente penso em achar uma resposta para uma pergunta. Algumas

    vezes em obter um resultado. Dados Incógnita Problema Condição Mestra, descreva seu imaginário, sua imagem mental, para um problema!
  5. É óbvio, em algum lugar, em algum conjunto de coisas.

    Dados Incógnita Problema Condição Achar respostas onde, Mestra?
  6. Sim, e dados fazem parte de coleções bem caracterizadas de

    coisas: conjuntos! Dados Incógnita Problema Condição Obter resultados envolve uma rotina, um passo-a-passo a partir dos dados, não?
  7. Sim Mestra, conjuntos! Eles constituem a entidade matemática apropriada para

    formalizar o conceito de problema. Mais precisamente, relações, que são subconjuntos do produto cartesiano de dois conjuntos X e Y: ⊆ ×
  8. × , R O visual geométrico de uma relação R:

    Apenas, e tão somente, um subconjunto de × : E quando , ∈ escrevemos .
  9. 1,3 × [1,2] 2 1 3 1 2 Vejam a

    relação ≥ em [1,3] × [1,2]: Escrevemos ≥ quando , ∈ ≥ . ,
  10. −1,1 × [−1,1] 1 1 −1 −1 2 + 2

    = 1 Agora vejam a relação 2 + 2 = 1 em [−1,1] × [−1,1]:
  11. × R () ℐ() O domínio () da relação R

    é o subconjunto de X definido por: = ∈ ∃ ∈ , ∈ } A imagem ℐ() da relação R é o subconjunto de Y definido por: ℐ = ∈ ∃ ∈ , ∈ }
  12. × R () ℐ() Mestra, dada uma relação ⊂ ×

    se ∈ () e ∈ ℐ() podemos garantir que ? Não Loirinha! Todos os pontos na região amarela do desenho satisfazem suas condições mas estão fora de R.
  13. Funções constituem casos particulares de relações que satisfazem a exigência

    adicional: ⟹ = . × R Situação proibida para funções. y z
  14. Funções descrevem relações de causa e efeito. Uma causa não

    pode possuir mais que um efeito. Efeito Outro efeito Causa
  15. × f = () Face à ideia de descreverem relações

    de causa e efeito, as funções são anotadas previlegiando a direção: : → com = ().
  16. × f = () Também, por descreverem relações de causa

    e efeito, para funções há a exigência adicional de serem definidas para todo elemento ∈ . Em outras palavras, se ⊂ × é uma função, então = . Entretanto não se exige que ℐ = . Por isto Y é denominado contradomínio.
  17. −1,1 × [−1,1] 1 1 −1 −1 2 + 2

    = 1 Vejam a relação 2 + 2 = 1 em [−1,1] × [−1,1]. Ela não define uma função. Entretanto, em [−1,1] × [0,1], ela define uma função.
  18. Dados Incógnita Problema Condição Voltando aos problemas: Um problema pode

    ser associado à uma relação ⊂ × . Nesse caso, a condição é descrita pela relação R. Já os dados e a incógnita podem ser elementos tanto de X como de Y.
  19. Dados Incógnita Problema Condição Um problema direto é aquele em

    que os dados são elementos do conjunto X e, para cada ∈ , a incógnita é o elemento ∈ tal que .
  20. Face à ideia de causa e efeito, os problemas diretos,

    geralmente, estão associados a funções. Sim, porque a ideia subjacente é: Para um valor ∈ , dado, calcular aquele ∈ para o qual = ().
  21. Dados Incógnita Problema Condição Um problema inverso é aquele em

    que os dados são elementos do conjunto Y e, para cada ∈ , a incógnita é o elemento ∈ tal que . Atenção!
  22. Sim Loirinha, inclusive pode não haver solução nenhuma. É só

    lembrar que não existe ∈ ℝ tal que 2 = −1. É mesmo Filósofo, o problema: Obter ∈ ℝ tal que 2 = 1, possui duas soluções: = ±1 .
  23. Os problemas inversos normalmente estão associados à resolução de equações.

    Problemas inversos normalmente são mais complexos, pois envolvem a descoberta de ∈ tal que , para ∈ dado. O elemento ∈ pode até não existir ou, se existir, não ser único.
  24. A resolução de equações, de sistemas lineares, de equações diferenciais

    ordinárias ou parciais. A obtenção de autovalores e autovetores, ... Mestre, cite alguns problemas inversos importantes.
  25. R −1 = Dada uma relação ⊂ × a relação

    inversa −1 de R é definida por: −1 = , ∈ × (, ) ∈ } Para relações ⊂ ℝ2, a relação inversa −1 é o reflexo de R no espelho = .
  26. Y X −1 Lembro que um problema inverso pode ser

    transformado num direto através da relação inversa. A inversa de uma função nem sempre é função. Pensem em () = 2
  27. A inversa de ↦ = 2 é ↦ = ,

    para ≥ 0. Sim, Surfista. Ela fornece a solução para o problema inverso: dado ≥ 0, qual é o valor de ∈ ℝ para o qual 2 = .
  28. Dados Incógnita Problema Condição Sim, a ideia subjacente é investir

    na resolução de problemas suficientemente gerais. Eventualmente, num ou noutro caso particular. Atenção Loirinha e Surfista: Os problemas diretos e os inversos são classes de problemas.
  29. Loirinha, o Mestre repete toda hora “matemática do contínuo”, “matemát...”

    Estou perdendo a paciência! Pois é! Ele repete tanto que meu maior problema já passou a ser: O que é continuidade?
  30. Continuidade tem a ver com proximidade, que tem a ver

    com medir distância. Com trenas, réguas, paquímetros, microscópios, ... Com metros, centímetros, milímetros, ...
  31. Sim Filósofo. E com desigualdades do tipo − < ,

    que garantem a proximidade entre e y. Basta escolher épsilon pequeno, por exemplo: = 10−3 = 0.001
  32. Bem Loirinha, vou começar explicando o que é uma função

    contínua. Funções contínuas são bem comportadas!
  33. 0 (0 ) f Uma função ↦ () é contínua

    em 0 quando ∀ > 0, ∃ > 0 tal que: − 0 < ⟹ − 0 < f 0 (0 )
  34. 0 (0 ) f f 0 (0 ) Repetindo: uma

    função ↦ () é contínua quando o problema inverso tem solução. Dado > 0, obter > 0 tal que: − 0 < ⟹ − 0 < .
  35. y Surfista, imagine que você está, de olhos vendados, num

    escorregador como o gráfico da função ↦ = (), da figura. f
  36. 0 f Que malvadeza Mestra! Ele poderia ter se machucado.

    Aí, surpresa!!! A função tinha uma descontinuidade.
  37. 0 f t (0 ) () Observe Loirinha que à

    direita de 0 : Não importa quão próximo t estiver de 0 , o valor de () nunca chegará perto do valor de (0 ).
  38. 0 f t (0 ) () É verdade Mestre. Devido

    ao salto em 0 . salto Repetindo: pela direita de 0 : Não importa quão próximo t estiver de 0 , o valor de () nunca chegará perto do valor de (0 ).
  39. Em matemática e computação anotamos o maior inteiro menor que

    por . Confira comigo, Loirinha: 2.31 = 2, = 3, 7 = 6, −2.7 = −3
  40. f 1 2 4 3 0 -1 -3 -2 -1

    -2 -3 1 2 3 O gráfico da função : ℝ → ℤ definida por ↦ = possui uma quantidade enumerável de pontos de descontinuidade: todos os inteiros. Uma escada bem maior que escadaria da Igreja da Penha!
  41. Eis uma função : ℝ → ℝ descontínua em todos

    os pontos do seu domínio: = 0 ∈ ℚ 1 ∈ ℝ\ℚ É uma peneira matemática. Só caem no chão os racionais.
  42. Vocês vão gostar! Vá à aba “Leituras adicionais” no site

    do Mestre e leia “Who give you the Epsilon, J. V. Grabinet”
  43. 0 = (0 ) f Os Mestres de Cálculo já

    apontaram isso! Esta outra função é contínua, mas não é derivável em 0 . Ela não é suave aí! Veja o biquinho pontudo que ela faz em 0 , Loirinha.
  44. Precisamos sair dessas ideias intuitivas. Mais adiante esses conceitos serão

    necessários. Em particular, para lidar com números reais no computador, precisaremos entender: “O contínuo dos números reais”
  45. Dizem que o Leibnitz pensava na derivada de uma forma

    mais geométrica que o Newton, que falava em fluxões. Sim Loirinha. Newton pensava mais fisicamente nas coisas. Pensava em fluxos, velocidades e acelerações.
  46. t = () t b a Assuma que uma grandeza

    é descrita por uma função contínua : , → ℝ, ↦ = (), como na figura:
  47. t 0 0 Considere um ponto (0 , 0 )

    na curva descrita por g e assuma que ela é suave nesse ponto (não faz biquinho!). Agora, vamos considerar um outro valor 1 para t e o correspondente 1 = (1 ) 1 1
  48. t 0 1 1 0 Assumam que t é tempo

    e y posição. Então ↦ = () descreve como varia a posição de um ponto sobre o eixo-y em função do tempo. Nesse caso 0 é sua posição no instante 0 e 1 no instante 1 . tempo posição
  49. t 0 1 1 0 As variações foram: ∆ =

    1 − 0 e ∆ = 1 − 0 . ∆ ∆ O quociente ∆ ∆ é a taxa de variação da quantidade g.
  50. Como ∆ = 1 − 0 é uma variação temporal

    e ∆ = 1 − 0 uma variação posicional a taxa de variação ∆ ∆ mede a velocidade média do ponto ao se deslocar de 0 para 1 . t 0 1 1 ∆ ∆ 0
  51. t 0 1 1 0 Prestem atenção na reta secante

    (azul) por (0 , 0 ) e (1 , 1 ). Quando 1 → 0 teremos 1 → 0 e, como a curva é suave, a reta passa de secante à tangente (vermelha) por (0 , 0 ).
  52. Valeu Mestre. Então quando ∆ = 0, o quociente ∆

    ∆ será a velocidade instantânea na posição 0 . A ideia de Newton! Surfista, você não pode dividir por zero. Além disso teremos também 1 = 0 de forma que o quociente ∆ ∆ ficará indeterminado!
  53. t 0 1 1 0 Brilhante, Loirinha. Este é mais

    um exemplo da inteligência feminina em ação!
  54. E o que são esses fluxions? As velocidades de incrementos

    evanescentes? E o que são esses mesmos incrementos evanescentes? Eles não são, nem Quantidades finitas, nem Quantidades infinitamente pequenas, não são nada. Não poderíamos chamá-las de fantasmas de quantidades mortas?
  55. t 0 1 1 ∆ ∆ 0 Observem que no

    triângulo rosa ∆ ∆ = , onde é o ângulo do vértice (0 , 0 ). A inclinação da reta secante. Repetindo: A inclinação da reta secante dá a velocidade média!
  56. t 0 1 1 0 Quando ∆ → 0 perdemos

    o triângulo. Mas, se a curva é suave, a reta secante transforma-se na reta tangente.
  57. t 0 1 1 0 Perdemos o triângulo, porém não

    perdemos o ângulo que mede a inclinação da reta tangente. O valor numérico de dá a velocidade instantânea em 0 . Porque é o limite das velocidades médias.
  58. A definição de derivada de uma função : (, )

    → ℝ, num ponto 0 ∈ , : 0 = lim ∆→0 0 + ∆ − (0 ) ∆ . t 0 1 1 0 Quando esse limite existe, é igual a (). E g é derivável em 0 . ∆
  59. Sir Isaac Newton 1642 - 1726 Gottfried Wilhelm Leibnitz 1646

    - 1716 Aleluia! E glória eterna a Newton e Leibnitz no céu das ciências. Hosana nas alturas!
  60. Fui buscá-lo no site: MacTutor History of Mathematics. Surfista, vá

    à aba “Leituras adicionais” no site do Mestre e leia “A history of calculus”, de J. J. O'Connor e E. F. Robertson
  61. Repito: para lidar com números reais no computador, precisaremos entender:

    “O contínuo dos números reais” Atenção Surfista, na abertura do texto, de história do Cálculo, logo no 2º parágrafo os autores falam de números.
  62. Vou mostrar um exemplo clássico de uma função contínua, com

    uma infinidade pontos onde não é derivável. Um verdadeiro porco-espinho.
  63. t ℎ /3 1 /3 /3 Vamos usar funções chapéu

    na construção. O formato dos chapéus será como abaixo: 1. Largura variável L, e altura fixa 1. 2. Abas com largura L/3 e a base do cone também. Será uma coleção de chapéus de bruxa!
  64. 1/3 t 1 ℎ2 1/31 1/32 1 3 = 20

    + 21 chapéus t 1 1 ℎ3 1/33 1/32 1/31 7 = 20 + 21 + 22 chapéus • A 1ª função, ℎ1 : [0,1] → ℝ, será a da figura anterior, com = 1. • Na 2ª, ℎ2 : [0,1] → ℝ, substituímos as abas da 1ª por 2 chapéus de largura /3. • Na 3ª, ℎ3 : [0,1] → ℝ, substituímos as abas dos 2 chapéus acrescentados por 22 chapéus de largura /32. • Assim por diante...
  65. A função que o Filósofo prometeu é definida para cada

    ∈ 0,1 por ℎ = lim →∞ ℎ . A função ℎ: [0,1] → ℝ é contínua. Porém possui uma infinidade de pontos “angulosos”, isto é, não é derivável numa infinidade de pontos de seu domínio.
  66. A derivada da ℎ() é uma função constante por partes.

    ℎ: [0,1] → ℝ possui uma infinidade de pontos de descontinuidade. Mestre, o gráfico de ℎ é uma escadaria muito doida.
  67. Achei na Web uma descrição de como sismógrafos registram os

    abalos sísmicos. Muito simples, um exemplo de engenhosidade!
  68. alexandremedeirosfisicaastronomia. blogspot.com.br/2011/11/terremot os-e-ondas-sismicas.html Recortei este trecho do blog só para

    colocar o anzol na sua boca Surfista. Vá ao endereço abaixo ler o resto (e outros artigos).
  69. Em Análise Numérica, não basta saber se a função associada

    a um problema é contínua ou derivável. Precisamos informações sobre seu condicionamento!
  70. E o que é “condicionamento de um problema” ? O

    número de condicionamento é uma forma de quantificar numericamente o comportamento de um problema.
  71. Sim, sempre tive alunos bem comportados como você, Loirinha –

    com nota 10. Também já tive alunos mau comportados. Mestra, você dava nota de comportamento aos seus alunos do 1º grau?
  72. Que papo careta! Problemas não são crianças para receber nota

    sobre comportamento. A nota de comportamento para problemas é outra: uma medida da taxa de variação da função que descreve o problema.
  73. Um problema, associado a uma função : → onde ,

    ⊂ ℝ, é bem condicionado num ponto ∈ quando: f f y () () Para pontos ∈ , nas vizinhanças de , o quociente |∆| |∆| = − − é pequeno, da ordem de unidades.
  74. f f y () () A ideia de mau condicionamento:

    Para pontos ∈ , nas vizinhanças de , o quociente |∆| |∆| = − () − é muito grande, da ordem de centenas.
  75. Claramente, a 1ª exigência é a continuidade da função. Se

    uma função : → é descontínua num ponto 0 ∈ , basta uma variação mínima em para um salto em . = (0 ) f É pior caso de mau condicionamento.
  76. O número de condicionamento absoluto de um problema associado a

    uma função : → , num ponto ∈ , é definido por , = lim ∆→0 | + ∆ − | | ∆ | . É o valor absoluto da derivada: , = .
  77. O conjunto de todas as retas ↦ − 0 +

    0 satisfazendo ≤ define um cone centrado em 0 , 0 com semi-abertura . 0 0 − 0 + 0 M
  78. 0 0 = (0 ) 0 ≤ Portanto, funções ↦

    = (), tais que 0 = (0 ), são bem condicionadas em = 0 quando (0 ) ≤ , para M da ordem de algumas unidades. As retas tangentes ao gráfico de f, por 0 , 0 ficam dentro de um cone de semi-abertura M.
  79. Para estimular as ideias, fiz os gráficos de alguns “cones

    de limitação de crescimento”. Os valores máximos das derivadas e os ângulos estão indicados. Esta imagem ajuda muito nossa intuição sobre a ordem de grandeza do número de condicionamento!
  80. Bem Mestre você definiu condicionamento absoluto de um problema. Existe

    também o condicionamento relativo. Ele é o quociente do erro relativo entre as variações da e do argumento : (, ) = lim ∆→0 |(∆)() ()| |∆ | , desde que as divisões sejam possíveis, é claro.
  81. Efetuando as contas dentro do limite, obtemos: − |() |

    − | | = − − × || | | Portanto o condicionamento relativo de uma função f num ponto ∈ () é dado por: , = , ≠ 0.
  82. Mais adiante no Curso, teremos a oportunidade de entender a

    importância, para a Análise Numérica, desse conceito de número de condicionamento de um problema.
  83. Para encerrar este conjunto de transparências, vamos buscar o que

    já foi publicado na Wikipedia a respeito de modelagem matemática.