Upgrade to Pro — share decks privately, control downloads, hide ads and more …

Linguística histórica: origens, método comparativo e perspectivas

Linguística histórica: origens, método comparativo e perspectivas

Presentation of the first session of the workshop given at UFRGS (in Portuguese).

Tiago Tresoldi

May 16, 2019
Tweet

More Decks by Tiago Tresoldi

Other Decks in Science

Transcript

  1. Linguística histórica:
    origens, método comparativo e
    perspectivas
    Tiago Tresoldi
    Computer-Assisted Language Comparison ERC Group
    (CALC)
    Max-Planck-Institut für Menschheitsgeschichte
    (MPI-SHH / Jena, Alemanha)
    Porto Alegre, 2019-05-16/17

    View Slide

  2. 2
    Sobre essa oficina - I

    Objetivos

    Capacitar público quanto à linguística histórica
    enquanto método comparativo

    Apresentar novos métodos computacionais de
    inspiração biológica

    Apresentar abordagens inter-, trans- e multidisciplinares

    Orientar alunos para possíveis colaborações científicas,
    especialmente quanto a línguas nativas da América do
    Sul

    View Slide

  3. 3
    Sobre essa oficina - II

    Formato essencial

    Primeiro turno: Expositivo dialogado, apresentação da
    fundamentação teórica

    Segundo turno: Demonstração e prática do método
    “tradicional”

    Terceiro turno: Demonstração e prática de novas
    abordagens computacionais

    View Slide

  4. 4
    Linguística histórica

    View Slide

  5. 5
    Linguística histórica
    Por Minna Sundberg

    View Slide

  6. 6
    Linguística histórica

    Estudo científico da mudança e da evolução
    linguística ao longo do tempo

    Inclui e relaciona-se, entre outros, com

    linguística comparativa

    dialetologia e a sociologia

    fonologia e a psicolinguística

    filologia e a filosofia da linguagem

    Muitas vezes coincide com o método comparativo
    ou mesmo com os estudos indo-europeus

    “fetiche da proto-forma”

    View Slide

  7. 7
    NeighbourNet para as línguas Dene–Yeniseian (Sicoli and Holton, 2014)

    View Slide

  8. 8
    Árvore radial para as línguas do mundo, a partir do ASJP (Jäger and Wichmann, 2014)

    View Slide

  9. 9
    Bouckaert et al. (2012)

    View Slide

  10. 10
    Linguística histórica - Jones

    William Jones (1746-1794)

    Precedência do sânscrito

    Discurso junto à Asiatic Society
    em 1786

    View Slide

  11. 11
    Linguística histórica - Jones
    “The Sanscrit language, whatever be its antiquity, is
    of a wonderful structure; more perfect than the
    Greek, more copious than the Latin, and more
    exquisitely refined than either, yet bearing to both
    of them a stronger affinity, both in the roots of
    verbs and the forms of grammar, than could
    possibly have been produced by accident; so strong
    indeed, that no philologer could examine them all
    three, without believing them to have sprung from
    some common source, which, perhaps, no longer
    exists.”

    View Slide

  12. 12
    Linguística histórica – A filologia (I)

    Já em época clássica se reconhece
    que
    (a) línguas diferentes apresentam
    semelhanças e correspondências que
    não podem ser explicadas por
    empréstimos e coincidências
    (b) as línguas, como confirmado por
    registros literários, mudam

    Com Da Eloquência em Vernáculo
    de Dante (~ 1305) inicia um
    tímido tratamento científico

    View Slide

  13. 13
    Linguística histórica – A filologia (II)

    Durante ao menos três séculos, a
    linguística histórica é empregada
    em dois caminhos diferentes

    Tentativas de criação ou preservação
    de “línguas perfeitas”

    Trabalhos de filologia e crítica textual

    A filologia científica já nasce como
    uma ciência “quente”, imersa na
    política (e.g., o estudo de Lorenzo
    Valla sobre a doação de
    Constantino em 1440)

    View Slide

  14. 14
    Linguística histórica – Inícios

    A linguística histórica começa a
    nascer como disciplina científica
    no séc. XVII, em dois campos
    correlatos:

    As empresas coloniais, e.g. Van
    Boxhorn (1612-1653) e as primeiras
    reconstruções de William Wotton
    (1713)

    As missões de catequização,
    especialmente jesuíticas, e.g. Lorenzo
    Hervás (1735-1809)

    “Orientalismos”, especialmente no
    caso de Jones

    View Slide

  15. 15
    Linguística histórica – Árvores

    View Slide

  16. 16
    Linguística histórica – Árvores

    View Slide

  17. 17
    Linguística histórica – Árvores
    Stemma de Collin & Schlyter (1827)

    View Slide

  18. 18
    Linguística histórica – Árvores
    Árvore de Georg Stiernhielm (c. 1680)

    View Slide

  19. 19
    O método comparativo (I)

    Os primeiros trabalhos modernos começam com o
    investimento prussiano em filologia e no estudo do
    “indo-germânico”

    Friedrich Schlegel (1808)

    Franz Bopp (1816)

    Rasmus Rask (1818)

    Irmãos Grimm (1819-1837)

    August Schleicher (1853)

    Hermann Grassman (1862)

    Karl Verner (1875)

    View Slide

  20. 20
    Fábula de Schleicher (1868)
    Avis, jasmin varnā na ā ast, dadarka akvams, tam,
    vāgham garum vaghantam, tam, bhāram
    magham, tam, manum āku bharantam. Avis
    akvabhjams ā vavakat: kard aghnutai mai vidanti
    manum akvams agantam. Akvāsas ā vavakant:
    krudhi avai, kard aghnutai vividvant-svas: manus
    patis varnām avisāms karnauti svabhjam
    gharmam vastram avibhjams ka varnā na asti. Tat
    kukruvants avis agram ā bhugat.

    View Slide

  21. 21
    Fábula de Sen (1997)
    To rḗḱs éh1est. So nn̥putlos éh1est. So rēḱs súhnum
    éwel(e)t. Só tós(j)o ǵʰeutérm
    n̥ (e)prn̥ḱsḱet: "Súhxnus
    moi ǵnn̥h1jotām!" So ǵʰeutēr tom rḗǵm
    n̥ éweukʷet:
    "Ihxgeswo deiwóm Wérunom". So rḗḱs deiwóm
    Werunom h4úpo-sesore nu deiwóm (é)ihxgeto.
    "ḱludʰí moi, phater Werune!" Deiwós Wérunos
    km
    n̥ ta diwós égʷehat. "Kʷíd welsi?" "Wélmi
    súxnum." "Tód h1éstu", wéukʷet loukós deiwos
    Werunos. Rēǵós pótniha súhnum gegonh1e.

    View Slide

  22. 22
    O método comparativo (II)

    View Slide

  23. 23
    O método comparativo (III)

    View Slide

  24. 24
    O método comparativo (IV)

    Ao final do séc. XIX, se afirmam em Leipzig os
    Neogramáticos

    A língua não é observável, apenas sua realização

    A sequência de sons é a propriedade mais essencial de
    uma língua, e independente de morfologia, sintaxe,
    semântica, etc.

    As mudanças fonológica são regulares; caso não sejam
    regulares, são explicadas por outros processos como
    analogia

    As mudanças fonológicas são imediatas

    View Slide

  25. 25
    O método comparativo (V)

    Etapas

    Coleta de dados

    Identificação de cognatos

    Identificação de correspondências

    Reconstrução de proto-formas por meio de leis
    fonológicas

    Exame tipológico

    Repetir à exaustão

    View Slide

  26. 26
    O método comparativo (VI)

    Alguns nomes importantes

    Ferdinand de Saussure

    Marija Gimbutas

    Georges Dumézil

    Colin Renfrew

    View Slide

  27. 27
    “Virada quantitativa”

    Evidências quantitativas são usadas desde os
    princípios da disciplina

    Os primeiros trabalhos propriamente estatísticos
    foram publicados Sapir (1916), Kroeber e Chretien
    (1937) e Ross (1950)

    Métodos computacionais iniciam com as
    contestadas abordagens de lexicoestatística e
    glotocronologia na década de ‘50

    Morris Swadesh e suas listas

    Joseph Greenberg

    Sergei Starostin e a Escola de Moscou

    View Slide

  28. 28
    Cladística e Filogenética - I

    Projecto CPHL (Computational Phylogenetics in
    Historical Linguistics) da Rice University no início
    da década de ‘90, liderado por Donald Ringe

    Em meados da década de ‘90, Ringe forma um outro
    grupo na Pennsylvania University

    Sucesso de mídia com o trabalho de Gray &
    Atkinson (2003), publicado na Nature

    Pesada reação da linguística histórica tradicional

    Contudo, análises filogenéticas têm sido publicadas com
    cada vez mais frequência

    View Slide

  29. 29

    View Slide

  30. 30

    View Slide

  31. 31
    Dados – I

    Métodos vêm e vão, (bons) dados são pra sempre

    “FAIR” data (Wilkinson 2016)

    Findable

    Accessible

    Interoperable

    Reusable

    Basicamente, um modelo de dados relacionais,
    armazenado em formato textual, com catálogos
    externos de referência

    A atenção aos preceitos precisa ser garantida
    automaticamente

    View Slide

  32. 32
    Dados – II
    āā̆bel-, āā̆bōl-, abel- `Apfel' Lat. Abella (osk. Stadt in Campanien) malifera `äpfeltragend', nach
    Verg. Aen. 7, 740, dürfte ihren Namen nach der Apfelzucht erhalten haben und auf die
    Grundform *ablonā zurückweisen. Der Apfel ist nicht etwa erst nach der Stadt benannt.Im Kelt.
    sind die Bezeichnungen für `Apfel' (*ablu) und `Apfelbaum' (*abaln-) auseinanderzuhalten.
    Gall. avallo `poma', Aballō (n-St.) ON, frz. Avallon, abrit. ON Aballāva, gallo-rom. *aballinca
    `Alpenmistel' (Wartburg); air. ubull (*ablu) n. `Apfel', ncymr. afal, Pl. afalau, corn. bret. aval m.
    `Apfel', aber mir. aball (*abalnā) f. `Apfelbaum', acymr. aball, mcymr. avall Pl. euyill
    (analogisch) f., acymr. aballen, ncymr. afallen `Apfelbaum' (mit Singulativendung). Die
    gleichen Ablautformen im Germanischen: Krimgot. apel (got. *apls?), ahd. apful, afful, mhd.
    apfel, ags. æppel (engl. apple), an. epli n. (apal-grār `apfelgrau') `Apfel'. Germ. wohl *ap(a)la-,
    *aplu-. Ferner an. apaldr `Apfelbaum', ags. apuldor, æppuldre, ahd. apholtra (vgl. nhd.
    Affoltern ON), mhd. apfalter `Apfelbaum' (*apaldra-). Das Baltische zeigt deutliche Spuren der
    im Idg. ganz vereinzelten l-Deklination *ābōl, G. Sg. *ābeles. Dehnstufe des Suffixes erscheint
    meist im Worte für `Apfel': ostlit. obuolỹs, lett. âbuolis (-iii̯o-St.), westlit. óbuolas, lett. âbuols (o-
    St.) aus idg. *ābōl-; Normalstufe meist im Worte für `Apfelbaum'; lit. obelìs (fem. i-St.), lett.
    âbels (i-St.), âbele (ē-St.) aus idg. *ābel-; aber apr. woble f. (*ābl-) `Apfel', wobalne (*ābolu-) f.
    `Apfelbaum'. Abg. ablъko, jablъko, poln. jabɫko, slov. jábolko, russ. jábloko `Apfel' (*ablъko aus
    *āblu-) usw.; abg. (j)ablanь, sloven. jáblan, ačech. jablan, jablon, russ. jáblonь `Apfelbaum',
    aus idg.*āboln- (die Lautform von *ablo `Apfel' beeinflußt). Obgleich eine einheitliche
    Grundform nicht ansetzbar ist, wird es sich beiden lat. kelt. germ. bsl. Formen nur um
    Urverwandtschaft und kaum um Entlehnung handeln. Beziehung zu lat. abies `Tanne' usw. sehr
    unsicher. WP. I 50, WH. I 3, E. Fraenkel KZ. 63, 172 ff., Trautmann 2.

    View Slide

  33. 33
    Dados - III

    View Slide

  34. 34
    WALS
    http://wals.info

    View Slide

  35. 35
    Glottolog
    http://glottolog.org

    View Slide

  36. 36
    Concepticon - I
    https://concepticon.clld.org

    View Slide

  37. 37
    Concepticon - II

    View Slide

  38. 38
    CLICS (I)

    View Slide

  39. 39
    CLICS (II)

    View Slide

  40. 40
    Bancos de dados multilinguísticos

    Lexibank (em preparação)

    Sound Comparisons (em preparação)

    IE-CoR (em preparação)

    Diachronic Atlas of Comparative Linguistics (DiACL)

    View Slide

  41. 41
    Lexibank

    View Slide

  42. 42
    Edictor
    http://edictor.digling.org

    View Slide

  43. 43
    Primeiro exercício
    /matapa/ /metaba/ /korulvi/

    View Slide

  44. 44
    Primeiro exercício
    /matapa/ /metaba/ /korulvi/

    View Slide

  45. 45
    Segundo exercício
    /deus/ /θeos/ /box/

    View Slide

  46. 46
    Segundo exercício
    /deus/ /θeos/ /box/

    View Slide

  47. 47
    Segundo exercício
    /deus/ /θeos/ /box/

    View Slide

  48. 48
    Para amanhã

    Explorar, se divertir, e criticar os bancos de dados
    apresentados

    Veremos alinhamentos, detecção de cognatos e aspectos básicos
    de filogenética

    Estudar os dois bancos de dados para essa oficina (Indo-
    Europeu e Tucanoano)

    Pensar na organização dos próprios dados

    Abrir uma conta no CodeOcean e executar a nossa
    “cápsula” (opcional)

    View Slide

  49. 49
    Referências e Bibliografia Essencial

    Anttila, Raimo. Historical and Comparative Linguistics. 2nd edition. Philadelphia: John
    Benjamins, 1989.

    Bassetto, Bruno Fregni. Elementos de filologia românica. São Paulo: EDUSP, 2001.

    Beekes, Robert S. P. Comparative Indo-European Linguistics. Amsterdam: John Benjamins,
    1995.

    Bowern, Claire; Evans, Bethwyn. The Routledge Handbook of Historical Linguistics. London:
    Routledge, 2014.

    Campbell, Lyle. Historical Linguistics – An Introduction. 3rd edition. Cambridge, Massachusetts:
    the MIT Press, 2013.

    Hoenigswald, Henry M. Language change and linguistic reconstruction. Chicago: University of
    Chicago Press, 1960.

    List, Johan-Mattis; Walworth, Mary; Greenhill, Simon; Tresoldi, Tiago; Forkel, Robert. “Sequence
    comparison in computational historical linguistics”. Journal of Language Evolution. 3.2. 130-
    144.

    Trask, Robert L. (Ed.) Dictionary of Historical and Comparative Linguistics. Chicago: Fitzroy
    Dearborn, 2001.

    View Slide

  50. View Slide

  51. 51

    View Slide