A brusone, causada pelo fungo Pyricularia oryzae linhagem Triticum, é a principal
doença da cultura do trigo de sequeiro em regiões tropicais do Brasil, especialmente
nos plantios que ocorrem entre fevereiro e meados de março. O dano é mais grave
quando a doença ocorre nas espigas, embora ocorra esporadicamente nas folhas.
Devido à forte dependência de condições ambientais que ocorrem durante uma fase
fenológica específica, modelos preditivos podem ser desenvolvidos e implementados
em estudos de avaliação de risco e em sistemas de alerta. Modelos existentes
baseiam-se em abordagens mecanísticas, ou seja, não utilizaram dados coletados em
campo para o seu desenvolvimento. Em nossos estudos, modelos baseados em
dados foram desenvolvidos com informações obtidas em 143 experimentos, sendo a
maioria conduzida em Patos de Minas, MG, entre 2013 e 2019, com plantios
sequenciais ao longo do ano, além de dados públicos de 42 ensaios cooperativos
(dados da parcela sem fungicida) realizados em seis localidades ao longo de nove
anos. Cada experimento foi classificado como epidêmico ou não epidêmico com base
em um limiar de 20% de incidência. Variáveis meteorológicas diárias (temperatura
mínima, máxima e média, umidade relativa e precipitação) foram obtidas da base
NASA POWER e resumidas em quatro janelas de sete dias antes e depois da data de
espigamento do trigo, resultando em 56 variáveis preditoras utilizadas na modelagem.
Modelos de regressão logística foram ajustados com seleção de variáveis por LASSO,
e o algoritmo bestglm foi utilizado para escolher combinações ideais com base no
critério BIC. Quatro modelos finais foram selecionados, contendo de um a quatro
preditores cada, com bom desempenho: AUC de 0,84 a 0,90 e acurácia entre 0,80 e
0,83. Um modelo com três variáveis preditoras tem sido utilizado em dois trabalhos em
andamento: 1) avaliação do efeito de datas de plantio em duas cultivares,
representando ciclos mais curto ou mais longo, utilizando-se dados históricos de 60
anos e dados de projeção climática para os próximos 60 anos; e 2) desenvolvimento
de um dashboard interativo, disponível na web, que usa dados históricos, atuais e de
previsão do tempo (7 dias) para alertar o risco de epidemias, além de mapas de risco
para áreas de produção de trigo no Cerrado produzidos a cada três dias. O sistema
está sendo implementado a partir da safra de 2025 e os resultados serão
apresentados.