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"Carro do ovo": reflexões sobre o trabalho remoto em tempos de pandemia

"Carro do ovo": reflexões sobre o trabalho remoto em tempos de pandemia

Palestra realizada durante o VII Seminário Esuda de Trabalhos Acadêmicos - SETA (2021), discutindo como as categorias de espaço, tempo e presença afetaram a relação virtual-presencial nas relações de trabalho remoto, assim como na Educação.

Marcelo Sabbatini

October 21, 2022
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Transcript

  1. "Carro do ovo": reflexões sobre o trabalho remoto em tempos

    de pandemia Prof. Marcelo Sabbatini (CE-UFPE)
  2. A virtualidade é o caminho? Mas quais os impactos? Teletrabalho,

    trabalho remoto, home office, ensino a distância...
  3. Espaço • “Penetração insidiosa do trabalho em todos os espaços

    e momentos de seu cotidiano” (Zaidan, Galvão) • Absorção de custos: equipamento, conexão, energia. • “Apagamento de toda e qualquer especificidade humana que seus cotidianos particulares” (idem) • “Co-penetração entre esferas produtiva e reprodutiva, racional e emotiva” (De Masi) • “O prazer da ubiquidade” (idem)
  4. Tempo • “Overtime”, “servilismo zeloso” (De Masi) • 24x7x365 •

    Exploração e intensificação do trabalho • “Elogio da lentidão” vs. “mundo cinicamente baseado na velocidade e exclusão de quem não é rápido” • Tensionamento de limites físicos e emocionais, cognitivos
  5. Presença • Presença: complexidade e dinamismo • Telepresença: estar lá

    • Presença social: estar juntos • Proximidade imediata, percepção, disposição • Presença cognitiva: reflexão e conhecimento • Presença emocional: sentimentos e emoções como mediadores da percepção • O que é estar "presente" numa sessão de interação remota? • Síndrome da Câmara Fechada
  6. Reflexões • A pandemia impacta tempo, espaço e presença nas

    interações humanas • Necessidade de regulação, formal e informal do trabalho e seus limites • Atenção para o contexto emocional: problemas de saúde, renda, impactos psicológicos e a “não normalidade” • A existência de um "nó ético": vigilância tecnológica, privacidade e direitos autorais • A atuação das "edtechs" na plataformização das instituições sociais
  7. • “Plataformas e conteúdos digitais largamente utilizados no ensino remoto

    e na educação a distância não estão desvinculados das limitações técnicas de algumas funcionalidades que incrementariam a interatividade; do design ou layout reféns de determinada concepção de aprendizagem, muitas vezes reduzida a uma abordagem instrucionista ou comportamentalista” (Saldanha) • Quais são valores incorporados ao Google Classroom? ? ? Questionamento Tecnologias têm valores?
  8. • Professor-centrismo: todas ações comandadas pelo professor, aluno reduzido a

    um receptor de informações • Informação-centrismo: recursos destinados a armazenamento e entrega de conteúdo, com escassa possibilidade de criação de conteúdos e de interação • Individualismo: inexistência de atividades colaborativas ou formação de grupos; ferramentas que não potencializam o diálogo ou comunicação interpessoal • Assimetria plataforma-usuário: alunos e professores não têm acesso às estatísticas e relatórios de síntese do uso. Não permite backup ou gravação dos dados estruturados • Impessoalidade: inexistência de perfil dos participantes, avatar reduzido, pouco capacidade de customização do ambiente • “Proprietarismo”: falta de integração com recursos externos, não adesão a padrões interoperáveis e/ou abertos ? ? Análise pessoal
  9. Desafios do trabalho/ensino remoto O que aprendemos? • Fatores sociológicos

    e culturais • “Tudo o que acontece na escola só pode ser explicado através do que ocorre fora dos muros escolares" (Baudelot, Establet) • Capital sociocultural (Bourdieu) • Posicionamento institucional • “Improviso precário” ou “planejamento viável” (Gusso) • Formação do usuário: do instrumental à assimilação • Acesso e inclusão digital • Abismo digital • Trabalho/estudo versus casa • Plataformas tecnológicas versus hackeamento / gambiarras • “Tecnologia ou metodologia”? • Ensino remoto não é EaD! • Ensino remoto não é presencial por videoconferência
  10. Recomendações para o remoto pandêmico (esboço) • Oportunidade para repensar

    processos comunicativos, pedagógicos... • Foco na afetividade: aula como espaço de acolhimento e escuta • Cultivo de uma cultura de pertencimento, pequenos rituais diários • Avaliação com ênfase no processo. "Pegar leve", sem perder rigor
  11. (cont.) •Flexibilidade: muitos caminhos levam ao mesmo objetivo. De tempo

    ferramentas. Pensar em hackeamento e tecnologia “baixa” •Estrutura, previsibiIidade, padronização. Até o momento da monotonia e acomodação à metodologia •Superação dos modelos anteriores (aula, reunião presencial). Buscar o que o digital tem de característica própria
  12. Quais as perspectivas de futuro? • “E se tivéssemos começado

    antes de começar?" (Kuklinski, Cobo) • “Tempos excepcionais exigem medidas excepcionais” (senso comum) • Análise crítica ampla: condição periférica e de dependência, interesses privados, exclusão tecnológica, dissolução de processos democráticos • Concepção de educação mais além do “ensino”, da comunicação mais além da “transmissão” • Busca pela soberania tecnológica, universalização do acesso digital Ressignificação da relação entre trabalho, educação e conhecimento, “reinvenção holística”