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O lugar da mulher negra na tecnologia

O lugar da mulher negra na tecnologia

Apresentação utilizada no VIII Colóquio de Feminismo Negro do Neiab/Uem sobre "O lugar da mulher negra na tecnologia", julho de 2021

Taís Oliveira

July 25, 2021
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Transcript

  1. O LUGAR DA MULHER NEGRA NA TECNOLOGIA _________________________ Me. Taís

    Oliveira VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado e Tecnologia | NEIAB/UEM
  2. Taís Oliveira é relações-públicas pela Faculdade Paulus de Tecnologia e

    Comunicação (FAPCOM), Mestre e doutoranda em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC (UFABC). Em sua dissertação desenvolveu pesquisa sobre “Redes Sociais na Internet e a Economia Étnica: um estudo sobre o Afroempreendedorismo no Brasil“. No doutorado pesquisa o impacto da desinformação e do discurso de ódio nas lutas antirracistas. Trabalha com dados, pesquisa e comunicação no terceiro setor, é professora universitária, pesquisadora membra do Núcleo de Estudos Africanos e Afro- brasileiros (NEAB/UFABC) e da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN).
  3. AS VÁRIAS VOZES Lélia Gonzalez Ruha Benjamin Dulcilei Lima Larisse

    Louise Pontes Gabi Oliveira Instituto Marielle Franco Tarcízio Silva Luiz V. Trindade Abdias Nascimento Podcast Futurar Natály Neri VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado e Tecnologia | NEIAB/UEM Rede de Observatórios de Segurança
  4. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Lélia Gonzalez Lélia (2021) aponta que a mulher negra desenvolve sua conscientização política pelo viés racial, visto que das problemáticas raciais seus filhos, parentes, amigos, irmãos são também vítimas.
  5. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Para Lélia (2021), o racismo enquanto construção ideológica e com práticas diversificadas nos variados modos nos processos de discriminação, estabelece no discurso de exclusão a perpetuação e reinterpretação dos interesses daqueles que são beneficiados com o racismo. Lélia Gonzalez
  6. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM A autora apresenta a concepção do lugar natural do negro a partir da divisão racial do espaço e da sistêmica violência dita legitima. A população negra é insistentemente colocada em lugares como as favelas, os hospícios, as prisões, na cozinha, ou seja, em posições de dominada, sobretudo sob efeito do discurso do dominante (GONZALEZ, 1982). Lélia Gonzalez
  7. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM A violência simbólica coloca a mulher negra no lugar de inferioridade e pobreza, ou ainda de objeto sexual e mercadoria, como no caso da “mulata”, jamais reconhecida como um ser humano com dignidade. O mito da democracia racial e as políticas de embraquecimento empurram as pessoas negras para lugares predeterminados no âmbito público e privado, respectivamente. O negro é visto apenas como um trabalhador braçal não qualificado ou como alguém apto a entreter, como músico, jogador de futebol e a mulata (GONZALEZ, 2021). Lélia Gonzalez
  8. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Abdias Nascimento “Acredito na pedagogia que liberta a tecnologia de sua atual tendência de escravizar o ser humano. A tecnologia deve existir como um sustentáculo para consagração do Homem e da Mulher em sua condição de ser. Autossuficiência na criação e adoção de tecnologia, assim como no desenvolvimento científico, precisa ocorrer simultaneamente ao desenvolvimento das nações [...]. Isso porque na estrutura da presente "ajuda técnica" as formas avançadas de tecnologia do capitalismo industrial, além de não cooperar na construção, em verdade instigam e promovem a penetração do capital monopolístico internacional e a alienação do autoconhecimento nacional [...]. A dependência científica e tecnológica equivale ao estrangulamento e a criação de sistemas de opressão porque está baseada sobre o valor da ambição de lucros.“ (Nascimento, p. 98, 2019)
  9. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM “A tecnologia não é apenas uma metáfora racial, mas um dos muitos meios pelos quais as formas anteriores de desigualdade são atualizadas. Por esse motivo, é vital que os pesquisadores façam um balanço rotineiro das ferramentas conceituais que usamos para entender a dominação racial.” (Ruha Benjamin, p.19, 2020) Ruha Benjamin
  10. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Estética e Reconhecimento Desinformação e Discurso de ódio Ética e Violências Organização, Trabalho e Renda Algumas reflexões:
  11. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Estética e Reconhecimento Larisse Louise Pontes desenvolve pesquisa sobre marcadores sociais da diferença a partir das mídias sociais digitais. Em "Estéticas em transformação: a experiência de mulheres negras na transição capilar em grupos virtuais" estuda, a partir de uma etnografia, como as comunidades digitais colaboram para a transformação da autoestima da população negra. “O colonialismo retirou a nossa qualidade de humanos, mas estamos a recuperando e o fenômeno da transição capilar por meio da articulação em mídias sociais digitais tem auxiliado nesse resgate.” (PONTES, p. 107, 2020)
  12. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Entre as descobertas do artigo "APIs de Visão Computacional: investigando mediações algorítmicas a partir de estudo de bancos de imagens" (SILVA, MINTZ et al, 2020) foi possível observar o etiquetamento de características fenotípicas não-brancas e acessórios não-ocidentais. A etiqueta “peruca” (“wig”) foi consistentemente atribuída a mulheres negras com cabelo crespo ou usando turbantes, além da atribuição da etiqueta “Dastar” em turbantes de brasileiras da região da Bahia, quando na verdade o Dastar é um turbante especificamente indiano usado por adeptos do Sikhismo. A etiqueta “acessório de moda” foi frequentemente atribuída a vestimentas no conjunto de dados da Nigéria. Estética e Reconhecimento
  13. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM A matéria de Nathália Geraldo questiona os algoritmos de busca do Google e as representações com imagens estereotipadas de mulheres, sobretudo mulheres negras. Estética e Reconhecimento
  14. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM “Consciência racial é o primeiro passo para libertação. Conhecimento é o que nos coloca no centro do mundo e no centro de nós mesmos. Consciência de quem somos e do que significa sermos quem somos em um país ainda muito racista e desigual é o que precisamos para construir boas referências, autoestima, políticas públicas e vivermos com equidade. O documentário visual "Negritudes Brasileiras" nasce não só como uma forma de dar continuidade ao debate racial brasileiro localizando-o no tempo presente com a ascensão de novos conceitos como representatividade e a crescente popularização da internet, mas também surge da demanda de muitos seguidores do Afros e Afins que durante três anos de existência do canal perguntaram sobre identificação racial.” Estética e Reconhecimento
  15. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Trindade (2020) Trindade (2020) analisou 506 matérias jornalísticas que continham o termo “discurso de ódio” entre os anos 1993 e 2018. A partir de 2012 ocorre maior ocorrência do termo nos veículos analisados, com 92,6% das citações até 2018. As mulheres negras são 81% das vítimas desta violência. Desinformação e Discurso de ódio
  16. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Instituto Marielle Franco (2020) O Instituto Marielle Franco apresentou recentemente o relatório da pesquisa A violência política contra mulheres negras: Eleições 2020 com um panorama das violências sofridas por mulheres negras nas campanhas eleitorais municipais do pleito de 2020. Desinformação e Discurso de ódio
  17. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Instituto Marielle Franco (2020) "A violência política praticada na Internet ou por meio de outras tecnologias para silenciar vozes e cercear liberdades têm algumas características próprias do uso da rede. Para as organizações da sociedade civil e movimentos que atuam no campo da proteção e segurança digital, o primeiro passo contra a normalização e banalização da violência política na internet é nomeá-la como tal." Desinformação e Discurso de ódio
  18. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM A Gabi Oliveira é youtuber no canal De Pretas e lançou uma série de vídeos sobre desinformação em parceria com a Avaaz. Os vídeos tratam de como notícias falsas desarticulam o movimento negro, sobre o assassinato de Marielle Franco, assassinato do jovem Marcus Vinicius, o caso do Caio Revela que sofreu fake news motivada por gordofobia e o caso da jornalista Bianca Santana que foi alvo de fake news pelo presidente eleito. Desinformação e Discurso de ódio
  19. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Ética e Violências Tarcízio Silva analisa casos de racismo algorítmico a partir da ideia de microagressões raciais, ou seja, as "sutis" ofensas verbais, comportamentais e ambientais, sejam elas intencionais ou não intencionais. Taxonomia do Racismo Online (Tynes et al, 2019)
  20. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Ética e Violências O autor acredita que para grupos minorizados, as microagressões e suas taxonomias podem ajudar populações racializadas a ‘nomear suas dores’ e engajar-se em estratégias anti- opressivas. Além disso, afirma também que uma perspectiva tanto interdisciplinar quanto interinstitucional de atuação é urgente para as sociedades contemporâneas.
  21. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Ética e Violências Entre março e outubro de 2019 a Rede de Observatórios de Segurança monitorou os casos de prisões e abordagem com o uso de reconhecimento facial nos estados da Bahia, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraíba. Dos casos monitorados pela Rede, a Bahia foi responsável por 51,7% das prisões, seguida do Rio de Janeiro, com 37,1%, Santa Catarina, com 7,3%, e Paraíba, com 3,3%. Os casos em que haviam informações sobre raça e cor, ou quando havia imagens dos abordados (42 casos), 90,5% das pessoas eram negras e 9,5% eram brancas.
  22. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Organização, Trabalho e Renda A Tese #Conectadas: O Feminismo Negro nas Redes Sociais de Dulcilei Lima buscou compreender, a partir de formulário e grupo focal, como se dá o Feminismo Negro nas redes sociais. A maioria das mulheres entrevistadas afirma ter chegado ao feminismo negro por meio da universidade, através de leituras e debates ou através de plataformas da internet como as redes sociais, blogs, influenciadoras digitais e plataformas de vídeo. Os fluxos identitários são centrais para caracterizar o feminismo negro nas redes sociais. A partir dos relatos sobre o processo de enegrecimento, a autora percebe a relevância do espaço acadêmico e das redes sociais para aquisição de identidade negra e melhora da autoestima de mulheres negras.
  23. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Organização, Trabalho e Renda Uma rede de atributos diversos, não homogêneos e com representações que demonstram especificidades. Valorização da estética negra, aproximação com questões sociais, veículos de comunicação com demarcador racial, artistas negros. Elementos que não permeiam especificamente a prática Afroempreendedora, mas que sugere um entrelaçamento com a própria identidade e vivência da população negra. Estrutura e relações do Afroempreendedorismo a partir da Análise de Redes Sociais na Internet (OLIVEIRA, 2019)
  24. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Organização, Trabalho e Renda Período de coleta: 15 de abril a 09 de maio de 2019 | 141 respostas 69,5% de mulheres; Idade entre 26 e 41 anos (58,6%); 29,8% com grau Superior Completo e 22% com Pós-Graduação Completa. 58,2% são profissionais autônomos; 60,3% oferecem serviços; 62,4% tinham um emprego formal; 49,6% tem outras formas de obter renda. 61,7% afirmam que enfrentam dificuldades em ser um Afroempreendedor. 98,5% afirmam utilizar a internet para atividades de sua empresa.
  25. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM Para exercitar a nossa imaginação por um futuro negro, a Revista AzMina e o coletivo de comunicação Nós Mulheres da Periferia criou o Podcast Futurar. Como sonhar amanhãs em um futuro de tantas incertezas?
  26. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM "De que forma as mulheres negras brasileiras têm se apropriado de ferramentas tecnológicas como estratégias de Resistência? Vemos que tais mulheres se apropriam das ferramentas com o intuito de propor soluções às brechas tecnológicas, sobretudo a brecha de conhecimento ao buscar meios formais e não-formais de obtenção de conhecimento para criação e manipulação de tecnologias, de modo a obter autonomia frente às TICs e fazer uso social das habilidades tecnológicas adquiridas na promoção de inovação e transformação social. Assim, observamos práticas genuínas e constantes de resistência e negociação diante dos processos de globalização e avanço tecnológico." (LIMA & OLIVEIRA, 2020)
  27. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM “Afrofuturismo é a ideia radical de imaginar pretos vivos no futuro.” (Natály Neri)
  28. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

    e Tecnologia | NEIAB/UEM REFERÊNCIAS: BENJAMNI, Ruha. Retomando nosso fôlego: estudos de Ciência e Tecnologia, Teoria Racial Crítica e a imaginação carcerária. In SILVA, Tarcízio (org). Comunidades, Algoritmos e Ativismos Digitais: olhares afrodiapóricos. LiteraRua: São Paulo, 2020. GOMES, Larisse Louise Pontes. Estéticas em transformação: a experiência de mulheres negras na transição capilar em grupos virtuais. In SILVA, Tarcízio (org). Comunidades, Algoritmos e Ativismos Digitais: olhares afrodiapóricos. LiteraRua: São Paulo, 2020. GONZALEZ, Lélia; HASENBALG, Carlos Alfredo. Lugar de negro. Editora Marco Zero, 1982. ___________, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. RIOS, Flavia; LIMA, Márcia (Orgs.). 1ª Edição. Zahar: Rio de Janeiro, 2020. LIMA, Dulcilei C. Conectadas: O Feminismo Negro nas Redes. Tese (Doutorado em Ciências Humanas e Sociais ) - Programa de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal do ABC, 2020 _____, Dulcilei C.; OLIVEIRA, Taís. Negras in tech: apropriação de tecnologias por mulheres negras como estratégias de resistência. Cad. Pagu, Campinas, n. 59, e205906, 2020. NASCIMENTO, Abdias. O quilombismo. Editora Perspectiva: São Paulo, 2019. OLIVEIRA, Taís. Redes Sociais na Internet e a Economia Étnica: um estudo sobre o Afroempreendedorismo no Brasil. Dissertação (Mestrado em Ciências Humanas e Sociais) – Programa de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal do ABC, 2019. SILVA, Tarcízio. Racismo Algorítmico em Plataformas Digitais: microagressões e discriminação em código. In SILVA, Tarcízio (org). Comunidades, Algoritmos e Ativismos Digitais: olhares afrodiapóricos. LiteraRua: São Paulo, 2020. ______, Tarcízio; MINTZ, André et al. APIS de visão computacional: investigando mediações algorítmicas a partir de estudos de bancos de imagens. Revista Logos: comunicação e Universidade, Rio de Janeiro, v.1, 2020 TRINDADE, Luiz Valério P. Mídias Sociais e a naturalização de discursos racistas no Brasil. In SILVA, Tarcízio (org). Comunidades, Algoritmos e Ativismos Digitais: olhares afrodiapóricos. LiteraRua: São Paulo, 2020.
  29. VIII Colóquio de Feminismo Negro: Mulheres em rede - Mercado

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