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Métodos de ponto fixo

Métodos de ponto fixo

Por efetuar.

Paulo Bordoni

July 09, 2015
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Transcript

  1. Lembre-se, quando uma sequência ( ) de números reais converge

    para um número real r, escrevemos → ou lim →∞ = . Sim Mestre, inclusive vimos exemplos gráficos de sequências convergentes.
  2. Mostramos a tabela dos 16 primeiros valores da sequência =

    1/( + 1) e o gráfico dela. Através do gráfico percebemos, facilmente, que lim →∞ 1/(1 + ) = 0.
  3. Repetimos a dose para os 21 primeiros valores da sequência

    = (1 + 1/). Pelo gráfico e tabela percebemos que ela converge para algum valor tal que 2.5 < < 3.0.
  4. Lembre-se Surfista: Dada uma sequência ( ) de números reais

    e dado ∈ ℝ, podemos afirmar que ( ) converge para , quando e apenas quando: ∀ > 0, ∃ ∈ ℕ tal que: > ⟹ − < .
  5. − < 10−7 Sim Mestre, e vimos o exemplo no

    qual − < 0.2 (os entram na faixa amarela) para todo > 4.
  6. Vimos também este outro exemplo, com a sequência = (1

    + 1/). Neste caso → e a precisão (largura da faixa) é = 0.1. Podemos conferir que − < para > 12.
  7. Lembre-se, foi o 1º problema inverso que estudamos, Surfista! Na

    realidade toda uma coleção contínua de problemas inversos: um para cada > 0.
  8. r ( ) 0 1 2 A forma que eu

    tenho para visualizar que → é: para cada precisão escolhida > 0, a sequência toda, exceto um pedacinho (os anteriores a N) fica dentro de uma “bola de raio entorno de r”. Repetindo: A sequência todinha, exceto alguns termos, está aqui!
  9. Seu enfoque é incrível Sherlock! Para cada precisão > 0

    escolhida, você quebra a sequência em dois grupos, um com infinitos termos e outro finito. E, a garantia de convergência, consiste em: enfiar o grupo infinito, todinho, na caixinha minúscula, de largura envolta de r.
  10. Augustin-Louis Cauchy 21/08/1789 23/05/1857 Bem, eu aprendi tudo isto lendo

    o “Cours d’analyse”, de Cauchy, publicado em 1821...
  11. Na determinação de raízes de uma equação através de métodos

    iterativos temos seis entidades envolvidas: 1. O método utilizado, 2. A equação, dada por () = 0, 3. A função : , → ℝ, 4. A que estamos procurando, 5. A sequência gerada pelo método que estamos usando, tal que → , 6. A sequência auxiliar definida pelos valores = ( ).
  12. Por exemplo: • Bisseção, • Newton-Raphson, • Secante Métodos 2

    − 2 = 0 Equação ↦ 2 − 2 Função 2, − 2 Raízes | Sequência | = ( ) Sequência
  13. Em todos os métodos, a função f é contínua e

    funções contínuas “empurram a convergência” no sentido que → ⟹ → (). Todos os métodos iterativos para determinação de uma de uma equação () = 0 envolvem a geração de uma sequência ( ) tal que → .
  14. Como = 0 temos: → ⇒ = ( ) →

    0 | = ( ) | → = ( ) → 0
  15. Por garantia, conferimos também se = − 0 < |

    = ( ) Portanto, além de testarmos se − < |
  16. Isto ficou claro. O que não entendi, é a outra

    condição de parada. Não temos que testar se | − | < , conforme fizemos no caso de = 2, | − 2 | < ? Pois é, minha filha, esse exemplo foi didático. Já sabíamos que = 2 é a raiz. No caso geral não – a raiz é o que buscamos!
  17. E como procedemos? Como não sabemos quem é r, não

    temos como testar a proximidade, | − | < , Bem Loirinha, a explicação já foi dada pelo Cauchy.
  18. Uma sequência ( ) é de Cauchy quando, e apenas

    quando, satisfaz a propriedade: Não estou vendo conexão entre esse novo simbolês e nosso problema! ∀ > 0, ∃ ∈ ℕ tal que , ≥ ⟹ | – | < .
  19. r ( ) 0 1 2 Bem Surfista, é só

    trocar esta fala, já dita pelo Filósofo, pela do Sherlock, na próxima transparência. Repetindo: A sequência todinha, exceto alguns termos, está aqui!
  20. ( ) 0 1 2 A sequência todinha, exceto uma

    quantidade finita de termos, entra numa caixinha de largura ε . Claro! Então a raiz r também estará nessa caixinha!
  21. Pois é Surfista, mas a sua conclusão só vale naqueles

    mundos que os matemáticos chamam de completos. Mas tranquilize-se, meu jovem, os espaços euclidianos (classe da qual o mundo em que vivemos faz parte) são completos.
  22. Neles, podemos conferir a convergência comparando a proximidade de dois

    termos quaisquer, isto é, testando se | – | < , para cada valor escolhido de . Nos espaços completos, em particular nos euclidianos, toda sequência de Cauchy é convergente e vice-versa.
  23. Em particular, testar se +1 – < é uma forma

    de garantir a proximidade de +1 com a raiz. Juro que não entendi! Ah Colega, é só fazer = + 1 e = .
  24. Aristóteles 384-322 410 390 370 350 310 290 1915 430

    330 1910 1890 1930 1950 Einstein 1879-1955 Platão 428-347 Euclides 360-295 ±300 Muito bem lembrado, Filósofo. Mas até ele publicar sua da Teoria da Relatividade Geral (1915 dC), todos acreditavam nisso. Mestra, não posso deixar de lembrar que Einstein provou que o espaço em que vivemos não é euclidiano.
  25. Não existe uma prova única de convergência, válida para todos

    os métodos iterativos. É necessário efetuar uma prova específica para cada método. Em particular, a prova de convergência do método de Newton-Rhapson pode ser encontrada em diversos livros de Cálculo/Análise Numérica.
  26. Logicamente NÃO, Loirinha. A convergência só é garantida quando você

    consegue exibir um valor de N tal que , > ⇒ – < , para cada valor escolhido da precisão . Não apenas para = 0.5 × 10−7. Mas Mestre, quando obtenho numericamente, que | +1 − | < 0.5 × 10−7, para algum valor de k, já não garanti a convergência?
  27. Para cada caixinha que a Mestra escolher, por minúscula que

    seja, você sempre conseguirá guardar dentro dela a sequência todinha, exceto alguns termos. Repita a frase do Mestre de forma mais saborosa, Sherlock.
  28. 1. Ao perceber um comportamento indicativo de convergência, acreditamos que

    a sequência é convergente (logo é Cauchy). 2. Para cada valor de n calculamos a diferença |+1 − |. 3. Paramos quando conseguimos +1 − < e | +1 | < para algum valor escolhido da precisão . 4. Assumimos +1 como aproximação ∗ para r. Na realidade, na prática, fazemos o seguinte: O passo 1 da lista não é matemática, apenas intuição. O passo 3 é passível de contra-exemplos ...
  29. Essa receita do Mestre não é respeitável. Quem diria! Mas

    é o que há, meu jovem. A própria Ciência não se garante com o Princípio da Indução. Procure descobrir o que falaram sobre o tema filósofos como David Hume, Thomas Kuhn, Karl Popper e outros.
  30. Newton nos ensinou que para enxergar mais longe precisamos subir

    nos ombros de gigantes. Vejamos o que alguns deles já nos apontaram sobre o conceito de ponto-fixo.
  31. Para , , ∈ : 1. , ≥ 0 –

    não-negatividade 2. , = 0 ↔ = 3. , = , – simetria 4. , ≤ , + , − desigualdade triangular Um espaço métrico é uma entidade matemática constituída por um conjunto M e uma função : × → ℝ, chamada métrica do espaço, (para medir distâncias) que satisfaz as propriedades:
  32. Todo espaço vetorial normado é um espaço métrico. Basta definir

    a métrica por , = − . O exemplo que mais utilizaremos é ℝ com , = − . Em seguida vem os ℝ com a distância definida através das normas que já vimos.
  33. Seja : → uma função definida num espaço métrico M

    . Um ponto ∈ é um ponto-fixo de quando, e só quando, () = .
  34. A função : ℝ → ℝ, é definida por =

    3 possui três pontos-fixo. É verdade Mestra. Os pontos = 1, = 0 e = −1 são pontos-fixo. Todos satisfazem = .
  35. Ah, Loirinha, o gráfico de () só corta a reta

    = nesses três pontos. Meu programa mostra isso. Mas, atenção para a escala! Fazendo as contas está claro, mas são só esses três?
  36. Uma função : → , um espaço métrico é uma

    contração quando, e apenas quando, existe uma constante ∈ [0,1) tal que , ≤ , , ∀, ∈ . f () y f () − − () ≤ − com ∈ [0,1) : ℝ → ℝ
  37. Um dos resultados mais importantes de análise é o Teorema

    do ponto-fixo de Banach: Num espaço métrico completo toda contração : → admite um único ponto-fixo ∈ , (isto é = ).
  38. Surfista, eis um exemplo de contração. O ponto-fixo é a

    origem 0, 0 : ↦ 3/4 1 0 1 0 3 2 1 0 4 1 2 3 3 2 1 0 1 2 3 4
  39. Se : → é uma contração, podemos determinar seu ponto-fixo

    p iterativamente, construindo uma sequência 0 , 1 , … , , … tal que lim →∞ = . Sim, basta definir +1 = ( ), com 0 ∈ .
  40. Uma das propriedade importantes é que (, ) ≤ 1

    − (1 , 0 ) Que permite estimar a velocidade de convergência.
  41. O gráfico, mostrado lá atrás pelo Sherlock, foi obtido com

    este programa, que usa a função fixed_point( ) da scipy.
  42. Observando o gráfico abaixo, podemos afirmar que − () ≤

    0.85 − , ∀ ∈ [0,1], i. é, que f é uma contração nessa grande vizinhança do ponto-fixo = 0.5478 … − () + ()
  43. Por quê, Mestre? Simplesmente porque o gráfico de f fica

    inteiramente contido no cone de convergência. Acompanhe meu raciocínio:
  44. Considere um ponto ∈ 0,1 , > . Observe na

    figura que − < < + (), i. é, − − + < < − + . Portanto − − < − < ( − ) ou, − () < ( − ), já que = (). Claro que o mesmo vale para ∈ 0,1 , < . E em p temos a igualdade, assim − () ≤ − , ∀ ∈ [0,1].
  45. Claramente, há uma vizinhança do ponto-fixo = 0.562 … para

    a qual o gráfico de () fica inteiramente dentro do cone de convergência, i. é, − () ≤ − . = 0.9
  46. A condição de convergência do teorema de Banach é ∈

    0,1 . Mestre escolheu = 0.9 no seu exemplo para ficar visualmente evidente no gráfico. Bastava eu ter escolhido > () = 0.7177 … Por exemplo = 0.72, que já teria sido suficiente.
  47. Por inspeção visual, podemos afirmar que = 0, = 1,

    = 2 e = 3 são pontos fixos de = + 1 2 (), cujo gráfico desenhamos abaixo.
  48. Entretanto, mesmo escolhendo 0 = 1.95, muito mais próximo do

    ponto- fixo = 2, a convergência “vai para” o ponto-fixo = 1 Confira!
  49. Mestre, tentei com 0 = 2.05, e também não convergiu

    para o ponto-fixo = 2. Mas convergiu para o ponto-fixo = 3.
  50. O túnel é iluminado do início ao fim pelo teorema

    do ponto-fixo de Banach. A condição para convergência é que f seja uma contração local entorno de p, i. é: para algum ∈ [0,1), − () ≤ − , para todo nas proximidades do ponto-fixo p. Mestres, há alguma luz no fim do túnel?
  51. Se: 1. ∈ [, ], 2. , ⊆ [, ],

    3. f é derivável em (a, b) 4. ∃ ∈ 0, 1 tal que ′() ≤ , ∀ ∈ (, ) então, definindo uma sequência 0 , 1 , … , , … por +1 = ( ), com 0 ∈ [, ] poderemos afirmar que: a. lim →∞ = e p é o único ponto fixo de f em [, ] b. − ≤ 0 − , − 0 c. − ≤ [ (1 − )] 1 − 0 , ∀ > 1. Às páginas 58,59 do Análise Numérica de Burden & Faires, 8ª ed. encontramos uma demonstração do Teorema:
  52. Esses dois gráficos esclarecem a situação. Essa função f é

    uma contração local entorno de = 1, mas para num entorno de = 2 temos − () ≳ ′() − e ′ > 1. As retas tangentes em p evidenciam essas afirmações.
  53. Mudando de assunto, é imediato que: “p é um ponto-fixo

    de uma função () se, e somente se, p é raiz de () = − ()” Confira a afirmação da Mestra, Surfista. Confira também que: “r é raiz de uma função se, e somente se, r é ponto-fixo de () = − ()”.
  54. Com efeito, Mestra: = ⟹ = − = 0 e

    também = 0 ⟹ 0 = − ⟹ = Deixe a fala do Sherlock por minha conta, Surfista!
  55. Vejam no programa a seguir. Obteremos o ponto-fixo de uma

    função = () usando o método oferecido pela SciPy. Automaticamente teremos a raiz da equação − = 0. Portanto, poderemos usar o método do ponto-fixo para achar raízes de equações.
  56. Na realidade, para resolver uma equação () = 0, usando

    o método do ponto-fixo, tudo que precisamos é escrever = () onde é alguma função construída manipulando algebricamente (). Complicou tudo, Filósofo.
  57. Ficou com medo da liberdade, Surfista? Por exemplo, para a

    equação 3 + 42 − 10 = 0, poderemos buscar pontos fixos de: a. = 3 + 42 + − 10 b. = 1 2 10 − 3 c. = − ′ - o método de Newton-Raphson