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O Mal-estar na Civilização

O Mal-estar na Civilização

Andres Kalikoske

July 15, 2016
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  1. Conceitos-chave Histeria Hipnose Cura pela fala Humanização da medicina A

    histeria como ponto de partida No século 19, um conjunto de sintomas assolava as mulheres vienenses: paralisia, afasia, cegueira, ataques convulsivos e desmaios. Sem sucesso, médicos tentavam explicar tais manifestações buscando causas orgânicas. Ao observar que esses sintomas desapareciam temporariamente, por meio da sugestão hipnótica, Freud desenvolve seu método psicanalítico. Ao falar de seus problemas em estado hipnótico, Anna O. encontra grande alívio. Por meio da "talk cure", a paciente revela um alto nível de repressão sexual em sua infância.
  2. Conceitos-chave Inconsciente Repressão A descoberta do inconsciente Freud conceitua o

    inconsciente como uma dimensão que transcende a razão, transcende o que o homem conhece de si mesmo (consciência), e que, na realidade, é o que o move. Sentimentos reprimidos na infância Compreendeu que grande parte dos desejos reprimidos do ser humano tinham origem em fantasias que se transformaram em traumas desde a infância. Assim, o fato em si significava pouco. O que realmente significava era a interpretação que a criança fez do ocorrido.
  3. Instâncias psíquicas Superego / Supereu Também chamado de “ideal do

    ego”, tem a função de conter os impulsos do id. Suas regras sociais e morais não nascem com a gente: nós as aprendemos na sociedade para que possamos conviver nela corretamente. Ego / Eu Comandada pelo “princípio da realidade”, essa parte é aquela que mostramos aos outros. Fortalecido pela razão, o ego está “preso” entre os desejos do id (tentando encontrar um jeito adequado de realizá-los) e as regras ditadas pelo superego. Funcionamento do aparelho psíquico Id / Isso Responsável pelos nossos impulsos mais primitivos: as paixões, a libido, a agressividade. O id está conosco desde que nascemos e é norteado pelo “princípio do prazer”, mas seus desejos são frequentemente reprimidos.
  4. CONSCIENTE Acesso imediato PRÉ-CONSCIENTE Acesso momentâneo INCONSCIENTE Acesso difícil, ocasional

    ou impossível ID / ISSO Princípio do prazer Conteúdo herdado Pulsões primárias Impulsos biológicos SUPEREGO / SUPEREU Princípio social Funções moral, social e cultural; contenção de impulsos do ID; noções de certo e errado; proibições EGO / EU Princípio de realidade Razão; planejamento; espera; autoconservação; moderação; relação dos impulsos com os mundo externo; negociação com consequências Níveis de consciência Instâncias psíquicas Níveis de consciência Funcionamento do aparelho psíquico O EGO é controlado pelo SUPEREGO e negocia com o ID
  5. Conceito-chave sentimento oceânico (crítica) Críticas à religiosidade A origem da

    religiosidade se encontra na sensação de desamparo infantil e na necessidade de elegermos um pai superpoderoso que amenize esse sentimento. Assim, Freud questiona que a origem seria o “sentimento oceânico” do ser humano – a crença de um manancial de energia que gera amparo e unifica tudo e todos. O sentimento oceânico foi posteriormente vinculado à religião, que dele se utilizou para legitimar seu projeto. É a religião que coloca a questão do sentido da vida. Trata-se de uma recriação delirante da realidade que é compartilhada por um grande número de pessoas. Impõe a todos um único remédio para evitar a dor e alcançar a felicidade, na medida em que “poupa-se ao indivíduo o caminho da neurose individual, oferecendo-lhe, em troca, uma espécie de ‘delírio de massa’ e a estagnação num estágio infantil de desenvolvimento psíquico” (SAROLDI, 2011, p. 91).
  6. Conceito-chave mecanismos de fuga Mecanismos de fuga O homem busca

    amenizar as vicissitudes de sua vida através de três medidas: a) distrações eficientes, tais como a atividade científica; b) satisfações substitutivas, tais como a arte; e c) entorpecentes, tais como medicamentos ou drogas. Sobre os entorpecentes, Freud afirma que “é justamente o poder que as drogas têm de criar um lugar mais confortável para o homem que as torna perigosas, já que seu uso pode desviar uma boa cota de energia necessária ao trabalho da civilização” (SAROLDI, 2011, p. 88).
  7. Conceito-chave mecanismo de defesa Mecanismos de defesa: a sublimação Eficiente

    mecanismo de defesa, a sublimação consiste em modos socialmente aceitáveis de satisfazer as pulsões. Assim, um indivíduo agressivo, por exemplo, pode socializar sua agressividade sem reprimi-la ou transformá-la em algo patológico se ingressar em clube de luta. Trata-se de um recurso psíquico eficiente porém restrito, uma vez que não se iguala aos prazeres obtidos com a satisfação de impulsos primários. Também é limitado, uma vez que nem todos os indivíduos poderão ser inseridos em atividades capazes de sublimar suas pulsões.
  8. Conceito-chave a felicidade enquanto meta do Ocidente Felicidade: o sentido

    da vida? Freud constata que “a felicidade constitui a meta da vida e que ela se divide em dois aspectos: a fuga do sofrimento e a experiência de intensas sensações de prazer” (SAROLDI, 2011, p. 86). A falência do homem reside no fato de que o programa do princípio do prazer contraria as normas de tudo e todos ao seu redor, mas, ainda assim, segue mantendo sua eficácia. A felicidade possui caráter eventual e a infelicidade nos visita com muito mais frequência. “A dor pode ter como origem o próprio corpo, com sua finitude e sua corruptibilidade; o mundo exterior, que pode se voltar contra nós com forças sobre as quais não temos o mínimo controle; e o relacionamento com outros seres humanos, fonte essa que se afigura mais penosa do que as duas primeiras, uma espécie de refinamento gratuito da cota de dor que já advém de todo o resto”( SAROLDI, 2011, p. 87).
  9. Mal-estar e bem-estar Por que somos infelizes? Freud aponta os

    seguintes motivos: o poder superior da natureza; a fragilidade dos corpos e a inadequação das regras feitas para regular a convivência humana na família, no Estado e na sociedade (SAROLDI, 2011, p. 91). Conforme Freud, “a civilização seria a maior responsável pelo infortúnio dos homens, que talvez fossem mais felizes se voltassem aos tempos primitivos” (SAROLDI, 2011, p. 92). Freud desenvolve a hipótese do mal-estar observando três questões: 1. A vitória do cristianismo e a desvalorização da vida terrena por parte desta religião. 2. As grandes navegações, que possibilitaram contato com povos primitivos, menos desenvolvidos e mais felizes que os europeus. 3. A descoberta do mecanismo de neuroses, que revelam a frustração que certas pessoas sentem diante da submissão aos sacrifícios que a sociedade lhe impõe como condição para a realização de seus objetivos culturais.
  10. Conceito-chave pulsão de vida pulsão de morte O homem viveria

    em um grande paradoxo: a pulsão de vida seria representada pelas ligações amorosas que estabelecemos com o mundo, com as outras pessoas e com nós mesmos, enquanto a pulsão de morte seria manifestada pela agressividade que poderá estar voltada para si mesmo e para o outro. Um processo de renúncia Segundo Freud, a civilização resulta da renúncia à satisfação direta das pulsões. O processo de renúncia nos retira do estado de natureza e nos faz ingressar no estado de cultura. A hipótese de Freud coloca uma importante questão para a vida atual, sendo que a categoria “renúncia” está sendo cada vez mais banida da vida contemporânea.
  11. 1. “Civilização e cultura são indissociáveis” (p. 36). 2. “A

    cultura abrange duas orientações: por um lado, a dominação e exploração da natureza, da qual a sociedade pode extrair bens culturais; por outro, a manutenção das instituições sociais, necessárias para a regulação e distribuição destes bens junto à sociedade” (p. 37). 3. “As relações sociais podem ser mediadas ou condicionadas pela satisfação das pulsões (instintos) oferecidas pelos bens culturais: força de trabalho (mais-valia) ou objeto sexual” (p. 37). 4. “Todo individuo é um inimigo (instintivo) da sociedade e por isso a cultura precisa proteger os indivíduos, civilizando-os através da coerção ao trabalho e renúncia aos instintos. Surge a necessidade de criar instituições e mandamentos de conduta social” (p. 38). 5. Ancestrais humanos: incesto, canibalismo e prazer de matar (p. 45). O Futuro de uma Ilusão
  12. 1. “A Religião seria um “sistema de doutrinas e promessas

    que, por um lado lhe esclarece deste mundo com injetável completude e, por outro, lhe assegura que uma Providência cuidadosa zelará por sua vida e, numa existência no além, compensará eventuais frustrações” (p. 58). 2. O homem não consegue viver sem abdicar de três “construções auxiliares”: são elas: “distrações poderosas que nos façam desdenhar nossa miséria, satisfações substitutivas que a amenizem e entorpecentes que nos tornem mais sensíveis a ela” (p. 60). 3. “Por vezes eles são responsáveis pelo desperdício de grandes quantidades de energia que poderiam ter sido empregadas no melhoramento do destino humano” (p. 67). 4. O principio do prazer comanda o funcionamento do aparelho psíquico, mas “seu programa está em conflito com o mundo inteiro, tanto com o macrocosmos quanto com o microcosmos” (p. 62-63). 5. A felicidade só é possível enquanto “fenômeno episódico” (p. 63). O Mal-estar na Civilização
  13. 6. O sofrimento do homem ocorre em três instâncias: “a

    partir do próprio corpo, que, destinado à ruína e à dissolução, também não pode prescindir da dor e do medo como sinais de alarme; a partir do mundo externo, que pode se abater sobre nós com forças superiores, implacáveis e destrutivas; e, por fim, das relações com os outros seres humanos” (p. 63-64). 7. “A melhor forma de felicidade é a quietude” (p. 65). 8. “A satisfação limitada de todas as necessidades se destaca como a forma mais atraente de conduzir a vida, mas isso significa antepor o gozo à cautela, algo que recebe seu castigo após breve exercício” (p. 64). 9. “A religião prejudica esse jogo de escolha e adaptação ao impor a todos, do mesmo modo, o seu caminho para a obtenção da felicidade e para a proteção contra o sofrimento. Sua técnica consiste em depreciar o valor da vida e desfigurar a imagem do mundo real de modo delirante, o que tem como pressuposto a intimidação da inteligência” (p. 78-79). O Mal-estar na Civilização
  14. 10. “Grande parte da culpa pela nossa miséria é de

    nossa chamada cultura; seríamos muito mais felizes se desistíssemos dela e retornássemos às condições primitivas. Eu a chamo de espantosa porque – seja como for que se defina o conceito de cultura – é certo que pertence justamente a essa mesma cultura tudo aquilo que tentamos proteger da ameaça oriunda das fontes de sofrimento” (p. 81) . 11. “Penso que um descontentamento profundo e prolongado com o respectivo estado de cultura preparou o solo sobre o qual, em certas ocasiões históricas, surgiu uma condenação” (p. 82). 12. “O ser humano se torna neurótico porque não é capaz de suportar o grau de frustração que a sociedade lhe impõe a serviço dos ideais culturais, e disso se conclui que suprimir ou reduzir consideravelmente essas exigências significaria um retorno a possibilidades de ser feliz” (p. 83). O Mal-estar na Civilização
  15. 13. “Reconhecemos como culturais todas as atividades e todos os

    valores que servem ao homem na medida em que colocam a Terra a seu serviço, protegem-no contra a violência das forças da natureza, etc” (p. 84). 14. “ A substituição do poder do individuo pelo poder da comunidade é o passo cultural decisivo. Sua essência consiste no fato de que os membros da comunidade se restringem em suas possibilidades de satisfação, enquanto o indivíduo não conhecia tais restrições” (p. 97). 15. “Tomamos cuidado para não concordar com o preconceito de que cultura é sinônimo de aperfeiçoamento, de que é o caminho da perfeição traçado para os seres humanos” (p. 99). O Mal-estar na Civilização
  16. ANDRES KALIKOSKE [email protected] FACEBOOK.COM/KALIKOSKE FREUD, Sigmund. O mal-estar na cultura.

    Porto Alegre: L&PM, 2010. FREUD, Sigmund. O futuro de uma ilusão. PortoAlegre: L&PM, 2010. LIMA, Luiz Tenório Oliveira. Freud. São Paulo: Publifolha, 2009. SAROLDI, Nina. O mal-estar na civilização: as obrigações do desejo na era da globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. Referências